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Um grande amigo meu avisou-me: "Estou comprando ingressos para o show do Chuck Berry. Vocês vão?" Pensei, na hora, que nunca poderia perder essa. O cara é o inventor do rock. Quantos inventores do rock existem no mundo? 4? 5? Elvis, Carl Perkins, Bill Halley, Little Richards? Qualquer um desses me faria sentir na obrigação de assistir.Chego ao Via Funchal. O local está totalmente tomado. Mais de 3 mil pessoas esperando a lenda. Quando Chuck Berry sobe ao palco, há um misto de reverência e graça, pois não é todo dia que se vê um senhor de 83 anos empunhando uma guitarra. O show é aberto com um clássico regravado pelos Beatles, "Roll Over Bethoven". Somente no terceiro quarto da música é possível saber do que se tratava. Enquanto as músicas vão sendo tocadas, as coisas mudam. Elas não melhoram, nem em qualidade de som nem em qualidade de execução. De reverência e graça o tom é de dó e piedade. Até uma certa condescendência com aquele velhinho.
Quem conhece um mínimo de música sabe que esse tipo de rock não sai do Mi, Lá, Mi, Lá, Si, Lá, Mi. E mesmo assim parece que as mãos do Chuck não o obedecem e da guitarra saem gritos desesperados. A voz é um pouco melhor, mas ele insistia em ficar olhando para trás, afastando-se do microfone.
Menos mau que toda essa auto-tortura tenha durado menos de 50 minutos. A lenda sai do palco sem se despedir e tocando algo irreconhecível. Ficamos na mesa conversando, pelo menos para que o ingresso valesse um pouco mais que aquilo.
Não me imagino vivendo num país como esse. Coitados...
O próprio Lula deixou de ser povo e está esperto. Esperto até demais (no mau sentido, claro).
