O Chato

18 janeiro 2014

Hoje, amanhã, mas não depois

Morte. O assunto sempre me fascinou. É divertido ver como quase todos fogem desse tópico. Invariavelmente todos vão passar por ela e, antes disso, vivenciar a despedida de amigos, parentes ou conhecidos.


No velório de seu pai, ela não derramou uma só lágrima. Perguntei, sem falar, se finalmente tinha encontrado alguém que entendeu plenamente e que conseguiu chegar ao ápice da razão. Alguém comentou que ela era uma rocha... Qual nada! Depois percebi que ela entendeu menos que a média. Que estava apenas abstraindo e fugindo do fato para não sofrer. É válido!? Não sofrer, mas ignorar que nunca mais conversaria, ouviria histórias ou almoçaria com aquele senhor?


Por isso aproveito o presente e penso a curto/médio prazo. Vou a bons restaurantes, escuto ótimas músicas (às vezes, na minha mediocridade, desenferrujo os dedos no teclado), viajo sempre que dá. Passo muito tempo com amigos e, principalmente, familiares. Porque, quando vamos, sobram ótimas lembranças para os que ficam. Mas nunca a ilusão de tê-los ou ouvi-los novamente.


Se você pertence à grande maioria de pessoas que acredita que existe alguma coisa após a morte, imagine por alguns minutos que você esteja errado. Apenas faça esse exercício (para uns, o medo da finitude é tão grande que é insuportável lidar com essa ideia). A partir desse ponto de vista, imagine o que é importante de fato. Só temos uma chance de gastar nosso tempo. Somos uns tremendos sortudos de estarmos no planeta certo num universo infinito, na época certa e em um período da civilização onde temos grande conforto, ao contrário de poucas décadas atrás. É uma sucessão de tantas coincidências que a tentação de dar outros nomes a isso é quase irresistível.


O luto é importante e deve existir. Desde que não demore muito. A vida ter um limite é o sentido dela mesma.


Agora vou jogar o tênis semanal com meu pai. Porque, amanhã, não sei.

15 janeiro 2014

"Blues"bell

 
Passei muito tempo envolto em Beatles, John, Paul, Elvis, Elton, Aretha, Ray, Knopfler, Hodgson, Rivers, Cocker... Cartola, Vinícius, Rita, Marisa, Caetano, Roberto. E perdi a flor azul que nascia em São Paulo, aqui do meu lado.

 
Justamente por viver basicamente numa redoma musical e por ter algum critério, me encanto com uma nova promessa apenas a cada 2 ou 3 anos. E qual foi minha surpresa ao saber que a carreira de Blubell já não era tão recente assim! Essa "promessa" já era realidade. Eu que não percebera!



Corri a tempo de assistir a apresentação do novo trabalho (4º álbum), onde, modestamente, ela se julga uma "não-diva". Coincidentemente, o nome do álbum utiliza uma expressão que usávamos na minha antiga banda de anos 60, que pretensamente nos fazia sentir menos velhos ("é a mãe").


Ao vivo, assim como no álbum, uma alta qualidade técnica dos instrumentistas e uma interpretação madura de sua protagonista. O único "porém" foi o ajuste de som do próprio SESC, faltando equalização entre os instrumentos e exagerando no agudo das vozes. Mas nada que abalasse minha "segunda" impressão. Músicas tristes, alegres, brincadeiras... tudo feito com aquela competência que transmite a mais pura naturalidade.


Sobre a flor, bluebell (parece que o "e" foi eliminado por motivos de direito autoral), descobri o seguinte: "Se crescidas sozinhas ou em massa, estas flores podem colocar-se em uma exibição deslumbrante. Não é de admirar que são uma fonte favorita". Não poderia ser mais perfeito: deslumbrante e favorita.


12 janeiro 2014

Pão de Açúcar sem sal

Já tinha ido ao Rio duas vezes. Na primeira, no alto dos meus 18 ou 19 anos, fui ver a queima de fogos do Reveillón em Copacabana. Da segunda vez, fui ao show dos Rolling Stones, também na praia de Copacabana. Em nenhuma dessas oportunidades fui ao Pão de Açúcar nem ao Corcovado. Avistava-os de longe. Essa semana, indo a trabalho, tive um tempinho, no final do dia, para ir ao afamado Bondinho.


É um espetáculo de desorganização! Para comprar o bilhete, nenhuma orientação. É necessário saber que é ali que se compra o ingresso pro Bondinho. Quando ele é emitido, não informam o que deve ser feito a seguir ou qual caminho tomar. Indo pelo fluxo, cheguei ao lugar certo, não sem antes ficar inseguro se estava indo ao meu destino ou saindo pra rua. Subindo alguns lances de escada, fica-se numa sala apertada e quente, perto da catraca, esperando o tal do bonde chegar. Quando se passa o bilhete, o primeiro susto. A catraca te empurra bruscamente para dentro da área de entrada do bondinho. Mal as pessoas que voltaram lá de cima saem, as portas são abertas para a entrada do próximo grupo. Gera uma pequena confusão e algumas pessoas se empurram. Quando as portas se fecham e presta-se atenção ao interior, parece um metrô malcuidado. É possível ver vidros sujos que atrapalham a visão e as fotos, pessoas ficam no meio do "vagão", quase sem conseguir enxergar nada, o cheiro é forte e o calor escaldante.

Será que os responsáveis pelo passeio não perceberam até hoje que o Bondinho não é um meio de transporte, mas, sim, uma atração turística conhecida mundialmente? Qual o impedimento em dar conforto aos minutos de subida e descida? Ainda mais com o ingresso custando mais de 60 reais por pessoa!

Fazendo uma comparação, no London Eye (a roda-gigante de Londres) a cabine é maior e entram muito menos pessoas por vez. Tem ar-condicionado e é limpíssimo.

O passeio do Bondinho tem duas pernas. A primeira vai até o primeiro elevado do Pão de Açúcar, e a última até a segunda elevação. Nesse intervalo, saindo empurrado da cabine, não há sinalização. Só depois de algumas curvas dá pra ver umas plaquinhas mixurucas. A vista de cima é linda. Existe um mirante que dá pra baía, mas as grades do mirante não possuem proteção alguma para crianças. É impressionante saber que não existe histórico de acidentes, pois qualquer criança passa por entre os metais facilmente. E tudo o que existe após isso é um tremendo penhasco.

O Rio de Janeiro desperdiça uma chance incrível de receita com turismo (para comparação, em 2009 o México teve o dobro de ganhos em relação ao Brasil). É a cidade mais conhecida do país e talvez a que tenha mais belezas naturais, com seus lagos, mares e morros.

Além da conhecida violência que a TV retrata diariamente, os pontos turísticos são sucateados e de difícil acesso. Assim fica difícil motivar a vinda de visitantes.