O Chato

13 agosto 2014

A celebração à ignorância

Saiu na Folha de hoje (13/Ago) uma reportagem estarrecedora. É sobre um habeas corpus concedido a dois assassinos da própria filha. A única coisa que fez o STJ diferenciar o casal de outros assassinos foi a religião.

O fato é que a menina, de 13 anos, tinha leucemia e precisou ser internada. Ela passou dois dias agonizando, esperando por uma transfusão de sangue que nunca ocorreu. Os pais, "Testemunhas de Jeová", não permitiram o procedimento. Cabe, também, estender uma parcela grande de culpa aos médicos, que deveriam agir como tais e, independente de crenças e de opiniões de leigos, tentar salvar a menina praticando os procedimentos normais.

Esse assassinato esconde-se por trás de uma cortina chamada "liberdade religiosa". O argumento é ridículo, e está abaixo, em passagens da bíblia. Não importa se você vai matar a própria filha! Essas pessoas escolhem as partes do livro que julgam importantes e as interpretam de forma literal. Assim como fazem os extremistas islâmicos. A diferença é que a arma, em vez de um AK-47, foi a não autorização de um procedimento médico corriqueiro.

Com a ajuda do STJ, estamos andando para trás. E a passos largos!

FSP: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,pais-de-menina-que-morreu-sem-transfusao-em-1993-podem-ir-a-juri-imp-,640535

Passagens bíblicas que sustentam a tese absurda da proibição de transfusões sanguíneas:

Gênesis 9:4 4 "Somente a carne com a sua alma — seu sangue — não deveis comer".

Levítico 17:10 10 “Quanto a qualquer homem da casa de Israel ou algum residente forasteiro que reside no vosso meio, que comer qualquer espécie de sangue, eu certamente porei minha face contra a alma que comer o sangue, e deveras o deceparei dentre seu povo".

Deuteronômio 12:23 23 "Apenas toma a firme resolução de não comer o sangue, porque o sangue é a alma e não deves comer a alma junto com a carne".

Atos 15:28, 29 28 "Pois, pareceu bem ao espírito santo e a nós mesmos não vos acrescentar nenhum fardo adicional, exceto as seguintes coisas necessárias: 29 de persistirdes em abster-vos de coisas sacrificadas a ídolos, e de sangue, e de coisas estranguladas, e de fornicação. Se vos guardardes cuidadosamente destas coisas, prosperareis. Boa saúde para vós!”

18 janeiro 2014

Hoje, amanhã, mas não depois

Morte. O assunto sempre me fascinou. É divertido ver como quase todos fogem desse tópico. Invariavelmente todos vão passar por ela e, antes disso, vivenciar a despedida de amigos, parentes ou conhecidos.


No velório de seu pai, ela não derramou uma só lágrima. Perguntei, sem falar, se finalmente tinha encontrado alguém que entendeu plenamente e que conseguiu chegar ao ápice da razão. Alguém comentou que ela era uma rocha... Qual nada! Depois percebi que ela entendeu menos que a média. Que estava apenas abstraindo e fugindo do fato para não sofrer. É válido!? Não sofrer, mas ignorar que nunca mais conversaria, ouviria histórias ou almoçaria com aquele senhor?


Por isso aproveito o presente e penso a curto/médio prazo. Vou a bons restaurantes, escuto ótimas músicas (às vezes, na minha mediocridade, desenferrujo os dedos no teclado), viajo sempre que dá. Passo muito tempo com amigos e, principalmente, familiares. Porque, quando vamos, sobram ótimas lembranças para os que ficam. Mas nunca a ilusão de tê-los ou ouvi-los novamente.


Se você pertence à grande maioria de pessoas que acredita que existe alguma coisa após a morte, imagine por alguns minutos que você esteja errado. Apenas faça esse exercício (para uns, o medo da finitude é tão grande que é insuportável lidar com essa ideia). A partir desse ponto de vista, imagine o que é importante de fato. Só temos uma chance de gastar nosso tempo. Somos uns tremendos sortudos de estarmos no planeta certo num universo infinito, na época certa e em um período da civilização onde temos grande conforto, ao contrário de poucas décadas atrás. É uma sucessão de tantas coincidências que a tentação de dar outros nomes a isso é quase irresistível.


O luto é importante e deve existir. Desde que não demore muito. A vida ter um limite é o sentido dela mesma.


Agora vou jogar o tênis semanal com meu pai. Porque, amanhã, não sei.

15 janeiro 2014

"Blues"bell

 
Passei muito tempo envolto em Beatles, John, Paul, Elvis, Elton, Aretha, Ray, Knopfler, Hodgson, Rivers, Cocker... Cartola, Vinícius, Rita, Marisa, Caetano, Roberto. E perdi a flor azul que nascia em São Paulo, aqui do meu lado.

 
Justamente por viver basicamente numa redoma musical e por ter algum critério, me encanto com uma nova promessa apenas a cada 2 ou 3 anos. E qual foi minha surpresa ao saber que a carreira de Blubell já não era tão recente assim! Essa "promessa" já era realidade. Eu que não percebera!



Corri a tempo de assistir a apresentação do novo trabalho (4º álbum), onde, modestamente, ela se julga uma "não-diva". Coincidentemente, o nome do álbum utiliza uma expressão que usávamos na minha antiga banda de anos 60, que pretensamente nos fazia sentir menos velhos ("é a mãe").


Ao vivo, assim como no álbum, uma alta qualidade técnica dos instrumentistas e uma interpretação madura de sua protagonista. O único "porém" foi o ajuste de som do próprio SESC, faltando equalização entre os instrumentos e exagerando no agudo das vozes. Mas nada que abalasse minha "segunda" impressão. Músicas tristes, alegres, brincadeiras... tudo feito com aquela competência que transmite a mais pura naturalidade.


Sobre a flor, bluebell (parece que o "e" foi eliminado por motivos de direito autoral), descobri o seguinte: "Se crescidas sozinhas ou em massa, estas flores podem colocar-se em uma exibição deslumbrante. Não é de admirar que são uma fonte favorita". Não poderia ser mais perfeito: deslumbrante e favorita.


12 janeiro 2014

Pão de Açúcar sem sal

Já tinha ido ao Rio duas vezes. Na primeira, no alto dos meus 18 ou 19 anos, fui ver a queima de fogos do Reveillón em Copacabana. Da segunda vez, fui ao show dos Rolling Stones, também na praia de Copacabana. Em nenhuma dessas oportunidades fui ao Pão de Açúcar nem ao Corcovado. Avistava-os de longe. Essa semana, indo a trabalho, tive um tempinho, no final do dia, para ir ao afamado Bondinho.


É um espetáculo de desorganização! Para comprar o bilhete, nenhuma orientação. É necessário saber que é ali que se compra o ingresso pro Bondinho. Quando ele é emitido, não informam o que deve ser feito a seguir ou qual caminho tomar. Indo pelo fluxo, cheguei ao lugar certo, não sem antes ficar inseguro se estava indo ao meu destino ou saindo pra rua. Subindo alguns lances de escada, fica-se numa sala apertada e quente, perto da catraca, esperando o tal do bonde chegar. Quando se passa o bilhete, o primeiro susto. A catraca te empurra bruscamente para dentro da área de entrada do bondinho. Mal as pessoas que voltaram lá de cima saem, as portas são abertas para a entrada do próximo grupo. Gera uma pequena confusão e algumas pessoas se empurram. Quando as portas se fecham e presta-se atenção ao interior, parece um metrô malcuidado. É possível ver vidros sujos que atrapalham a visão e as fotos, pessoas ficam no meio do "vagão", quase sem conseguir enxergar nada, o cheiro é forte e o calor escaldante.

Será que os responsáveis pelo passeio não perceberam até hoje que o Bondinho não é um meio de transporte, mas, sim, uma atração turística conhecida mundialmente? Qual o impedimento em dar conforto aos minutos de subida e descida? Ainda mais com o ingresso custando mais de 60 reais por pessoa!

Fazendo uma comparação, no London Eye (a roda-gigante de Londres) a cabine é maior e entram muito menos pessoas por vez. Tem ar-condicionado e é limpíssimo.

O passeio do Bondinho tem duas pernas. A primeira vai até o primeiro elevado do Pão de Açúcar, e a última até a segunda elevação. Nesse intervalo, saindo empurrado da cabine, não há sinalização. Só depois de algumas curvas dá pra ver umas plaquinhas mixurucas. A vista de cima é linda. Existe um mirante que dá pra baía, mas as grades do mirante não possuem proteção alguma para crianças. É impressionante saber que não existe histórico de acidentes, pois qualquer criança passa por entre os metais facilmente. E tudo o que existe após isso é um tremendo penhasco.

O Rio de Janeiro desperdiça uma chance incrível de receita com turismo (para comparação, em 2009 o México teve o dobro de ganhos em relação ao Brasil). É a cidade mais conhecida do país e talvez a que tenha mais belezas naturais, com seus lagos, mares e morros.

Além da conhecida violência que a TV retrata diariamente, os pontos turísticos são sucateados e de difícil acesso. Assim fica difícil motivar a vinda de visitantes.


02 maio 2011

Bye, bin Laden

Uma comemoração ostensiva dos EUA marcou o anúncio da morte de bin Laden. Isso, de certa forma, os iguala àqueles muçulmanos que comemoraram a queda das torres gêmeas. Os americanos deveriam ter recebido a notícia com alívio, claro. O mundo amanheceu um pouco melhor com um terrorista importante a menos. Mas também com tranquilidade, não saindo às ruas, cantando hinos e hasteando bandeiras. Imagino essas imagens chegando às televisões da Al Jazira e o povo islâmico vendo a festa. Não é difícil concluir que gerará mais violência e ódio por parte deles. A situação não é a mesma de um jogo de futebol, onde a torcida deve comemorar um gol. A morte de um líder rebelde que fez o que achava correto (por mais hediondo que seja) não significa o fim da guerra. Muito menos que haverá uma mudança de pensamento dos fanáticos religiosos. Significa, apenas, que uma pessoa com capacidade de liderança e inteligência para articular um grupo não existe mais. Certamente haverá substitutos para ele. A mente dos fanáticos islâmicos é o problema central da questão. O Ocidente sempre será o inimigo a ser extirpado (ou convertido) do mundo. Com esse pensamento (a nosso ver, maluco, mas normal para eles) muitas gerações ainda se inflarão contra o que for diferente daquilo.

Foto de Justin Lane

11 abril 2011

U2, a maior banda ruim do mundo

Começam os primeiros dois acordes no rádio e, mesmo sem nunca ter ouvido a música antes, já sei que se trata do U2. Não é que suas melodias têm uma característica própria... na verdade, são iguais! Aquela guitarra cheia de eco e delay em todas as músicas cansa. E “The Edge”, como é chamado o guitarrista, utiliza quase sempre a mesma oitava. Mas essa não é a pior parte da banda. O difícil, mesmo, é aturar a voz do Bono, sempre cantando em tons altos e chorosos, aliado a letras fraquíssimas: “They twinkle as the boys play rock and roll . They know that they can´t dance. At least they know”. É sofrível!

Mas existe algo que fascina a maioria das pessoas. Algo intangível que não consigo definir. Carisma não é a palavra certa. Até eu tenho mais carisma que o Bono. Mesmo assim, lota estádios por onde quer que passe. Eu pagaria para não ouvir 2 horas de U2. Tem gente que fica na fila por dias a fio para ficar mais perto do palco.

Existem outras bandas ruins que fazem sucesso também (Coldplay, por exemplo). Mas nenhuma tão em evidência quanto eles. Talvez por se enveredarem para um lado mais pop que rock, a exemplo do próprio Coldplay. Mas talvez por haver mais pessoas que não se importam com a música, em si, e recebem o que toca no rádio de seu carro, quando estão indo trabalhar, passivamente. Só isso explica sucessos como Rihana, por exemplo. É o novo pop emergindo, sem preocupação com boas letras ou qualidade musical. Apenas o refrão-chiclete e um rostinho bonito (ou, no caso do Bono, que não tem um rostinho bonito, um chato humanitário).

10 abril 2011

Awekenings

Leonard: It's quiet.
Sayer: Yes, everybody is sleeping.
Leonard: I'm not asleep.

Drácula

Homer: "Drácula, se um mosquito te picar, também vira vampiro?"

31 março 2011

Comida

Um dos maiores, senão o maior, prazeres da vida é comer. Seja lanche, carne ou massa. Poucas coisas são possíveis de ser realizadas diariamente com quase a mesma sensação de prazer. Depois dessa introdução, lugares que eu gosto e alguns que me enganaram:

Lugares que eu gosto

L'Osteria do Piero: além de um ambiente tipicamente italiano,
servem um dos melhores filés à parmegiana que já comi, e a um preço justo (R$99,00, serve 4 pessoas). http://www.losteriadopiero.com.br

Pizzaria Monte Verde: ambiente agradável, atendimento razoável, e
pizza nota 10. Massa finíssima é a especialidade da casa. http://www.monteverdepizzaria.com.br/

Almanara: http://www.almanara.com.br/

Lanchonete da Cidade: um dos melhores hambúrgueres e a melhor maionese de São Paulo! http://www.lanchonetedacidade.com.br/

Andiamo: ótimos pratos individuais para o almoço ou jantar. Não é
baratinho, mas se procura qualidade e bom atendimento, é ótima escolha! http://www.andiamo.com.br/

Vino!: Mais uma opção italiana. Excelente serviço, ambiente agradável e ótimos pratos. http://www.lojavino.com/

Lugares que já me enganaram mais de uma vez, mas que não volto mais

Galeria dos Pães: uma das mais renomadas padarias de São Paulo. O almoço, uma grande decepção. Preço fixo (e alto) para um buffet fraquíssimo de quentes e frios com direito a suco artificial (refrigerantes ou outras bebidas são cobradas - e muito bem cobradas! - a parte). Os lanches são um pouco melhores, mas igualmente caros. A relação custo x benefício desse lugar é ruim.

Padaria Paris: aparentemente um lugar agradável, mas a comida... o "brunch" desse lugar é realmente muito ruim. Além disso, o atendimento é péssimo.

Don Pepe di Napoli: talvez o polpettone mais famoso de São Paulo. Na verdade, é bem pequeno e o molho de tomate, ácido. Decepcionante.

Frangó: bom para quem gosta de cerveja, pois existe uma variedade enorme delas. Ruim para quem vai pela famosa coxinha. As três vezes que fui, o gosto do óleo velho sobrepõe-se ao do salgado. Fora que a espera de mesa é SEMPRE superior a 40 min.

06 fevereiro 2011

Acendedor

Atualmente o equipamento mais útil de um carro é o acendedor de cigarro. Existem muito menos fumantes que hoje, mas acender o agente cancerígeno passou a ser quase obsoleto. O que vale, agora, é transformar 12 volts em energia para se ligar qualquer coisa. MP3, GPS, e até geladeiras portáteis. Enfim, faço parte desse grupo isqueiro-dependente. Semana passada ele parou de funcionar. Fiquei sem autonomia no meu GPS e sem o transmissor de iPod para ondas FM. Pesquisando no Google, descobri que poderiam ser poucos os motivos para a parada repentina. Fui a um auto-elétrico já com o diagnóstico: fusível queimado. Ele teve a coragem de me cobrar 20 reais pra trocar a pecinha de 5 centavos. Confesso que pagaria até 30 pra não ficar sem!

01 dezembro 2010

A língua, de novo.

Vasculhando manuais de procedimentos da empresa em que trabalho (e nas anteriores também), é fácil constatar o número excessivamente alto de erros de português (ortografia, regência, acentuação, pontuação, neologismos). Além de ser profundamente desagradável, muitas vezes o texto torna-se simplesmente indecifrável, inútil.


Se os erros, em si, impressionam, fico ainda mais admirado com a falta de preocupação em corrigi-los. Pessoas de todos os níveis hierárquicos leem os documentos. Será que só a mim incomoda o descaso?

João Pedro Intrépido

"Entre aplausos e protestos, João Pedro Stédile, fundador do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), foi homenageado, nesta quarta-feira (1º), pela Câmara dos Deputados. Junto com outras 31 pessoas, ele recebeu a Medalha de Mérito Legislativo "por seus serviços prestados para a sociedade". A indicação de seu nome foi feita pelo deputado Brizola Neto (PDT-RJ)."


Isso demonstra como os deputados não representam a população.

23 novembro 2010

Paul McCartney - O Primeiro Show


A expectativa era grande. Desde que ouço e me viciei em Beatles, há pouco mais de 12 anos, espero ansiosamente por uma oportunidade de ver Paul McCartney ao vivo. Confesso que já estava sem esperanças de vê-lo no Brasil, e acompanhava com frequência diária por quais cidades passavam suas turnês (a maioria era nos EUA mesmo... malditos sortudos!).


Para minha surpresa, os rumores de 2010 estavam se tornando, pela primeira vez, realidade. Antes de ficar animado, a sensação foi de angústia. Será que conseguiria o ingresso que eu queria de fato? Será que haveria apenas uma apresentação em São Paulo? Será que eu conseguiria viajar pra Porto Alegre para acompanhar toda sua passagem pelo país?


Por motivos que me fugiam do controle (estava em negociação para mudar de emprego), não pude ir a Porto Alegre. Só me restava esperar e torcer para que tudo desse certo aqui e que confirmassem mais uma apresentação (já havia rumores também).


É o dia anterior ao anunciado para venda de ingressos. Entro no site de vendas e fico esperando desde às 21h, atualizando-o de minuto em minuto. Como era esperado, a venda foi aberta minutos antes da meia-noite (quase 15 minutos!). Obviamente havia gente que sabia disso. Foi de um desrespeito absurdo para quem não previu tamanha desonestidade. De qualquer maneira, eu estava vacinado. Tive que comprar ingressos para shows do ano passado e acontecera o mesmo. Saí clicando correndo e consegui ingressos para a pista Prime, no valor de 700 reais (+ taxas de “conveniência”... sim, 16% para se retirar no estádio e 20% para entrega em domicílio. Uma verdadeira exploração!) a unidade. Um amigo meu que entrou junto comigo não conseguiu efetuar a compra. Ou seja, em questão de pouquíssimos minutos estava tudo esgotado... ou, pelo menos, era o que achávamos... dias depois, liberaram outro lote, e ele pôde comprar num setor razoável. Soubemos depois que, sem divulgação nenhuma, liberaram mais 300 ingressos, com retirada apenas no estádio do Morumbi, para quase todos os setores. Outro desrespeito com os fãs. De onde surgiram esses ingressos? Por que fazer “lotes” – com exceção, claro, das cadeiras cativas que não foram vendidas... isso é compreensível – e liberar sem aviso prévio? Quem é que sabe os horários que disponibilizam esses ingressos? É preciso fazer parte dessa mafiazinha de desonestos para conseguir com tranquilidade um par de entradas? Prefiro ficar sem ingresso! Antes alguma dignidade. Mas ninguém liga. Quem quer se dar bem, entra na dança. Quem não quer e não concorda, normalmente não reclama. Esse é o perfil desse povo.


Fui retirar os ingressos com algum receio. Havia notícias de lotação e assaltos nos arredores do Morumbi. Para minha surpresa, quando cheguei não havia ninguém retirando (literalmente! Era só eu!).


É o dia do show. Combinei com um taxista, dois dias antes, para nos pegar em casa e levar-nos ao estádio. Chegamos lá por volta das 15h30 (o show estava marcado para às 21h30). Desnecessário dizer que já existiam filas quilométricas nos portões. Esperamos debaixo de um Sol de 30 graus até a abertura dos portões, às 17h30.


A desorganização era total. Ninguém sabia onde começava e terminava a fila, e pra qual setor que era. Não era uma fila única... ela era gorda, com 4, às vezes 5 pessoas atravessadas. Além da desorganização geral (vi apenas um orientador tentando organizar a bagunça, em vão), a cultura do nosso povo também não ajuda em nada. Vários “espertos” tentavam – e conseguiam – furar. Na minha frente apareceu, sem a menor cerimônia, um cabeludo com um bigode ridículo (há bigodes e bigodes... o dele era realmente ridículo). E o que aconteceu? Nada! Ou quase nada! Não permiti que ele ficasse ali, claro. Disse que estava ali desde às 15h30, e quem chegou com ele (17h), estava lá atrás. Com a cara mais lavada do mundo, ele se “surpreendeu”: “Poxa vida, é mesmo?”. Sim, é mesmo. Ele “saiu” da fila, mas entrou imediatamente atrás de mim. O pessoal que ali estava não reclamou, e ele economizou um bom tempo desonestamente. Cinco minutos depois, chega um grupo do Rio de Janeiro e ficou esperando, ao meu lado, uma chance de furar. Eram 3 homens e uma senhora de uns quarenta e poucos anos. Conseguiram furar na frente... do cabeludo!!! Óbvio que o cabeludo nem ligou, já que estava ali ilegitimamente. Até começaram um papo descontraído, como se não tivessem feito nada de mais. A fila começa a andar pra valer agora. Mais à frente existem grades onde furar fila torna-se impossível (deveria haver esse tipo de proteção durante todo o percurso, não somente ali). Centímetro antes dessa entrada, mais um pessoal tenta passar a nossa frente (um grupo grande, de umas 5 pessoas). Fechamos a porta. Adivinhou onde eles conseguiram entrar? Na frente dos cariocas! Chegaram 17h30 e ficaram no lugar de quem chegou duas horas antes.


Enfim, após a revista policial, entramos no estádio. Os sentimentos se misturam... alegria por tudo ter dado certo até aquele momento, êxtase em ver que o palco está tão perto, e angústia para a apresentação começar logo (faltavam 4 horas ainda!). Felizmente conseguimos sentar no chão. De hora em hora, mais ou menos, o pessoal dava uma empurrada, então a gente levantava, ia um pouco mais pra frente, e sentava novamente. Enquanto isso, colocaram um DJ no palco para passar o tempo. Era melhor que não tivesse nada. Além das músicas não fazerem o menor sentido com o contexto daquele dia, a qualidade de som era sofrível.


Eram 21h. Todos já estavam de pé, apreensivos para ver o Paul entrar em palco. Segundo meu relógio, ele entrou exatamente às 21h33. Pontualidade britânica, diferente das bandinhas nacionais, que atrasam horas. Paul já entrou falando em português, agradecendo todo mundo e começou a tocar. A qualidade de som era impressionante. Parecia que eu havia colocado um fone de ouvido e escutava meu iPod na sala de casa.

A segunda música é “All My Lovin’”, e gera uma apoteose coletiva. Todos cantando a plenos pulmões. A 30 metros do palco dá pra ver tudo em detalhes, e o telão é mero enfeite. Para melhorar, logo veio “Let me roll it”.


As músicas do repertório estão abaixo. Não vou citar todas, mas algumas foram muito marcantes.


Quando Paul foi pro piano, não surpreendeu tocar as belas “The Long and Winding Road” e “My Love”, falando em português que escrevera essa última para sua “gatinha” Linda, mas que, naquela noite, era pra todos os namorados.


Duas homenagens muito emocionantes foram “Something” e “Here Today”. Na primeira, Paul começa sozinho e há imagens, na tela que fica atrás do palco, dele com George. Na metade da música, a banda toda entra, e é uma sensação que apenas ele conseguiria oferecer. Em “Here Today”, é difícil ver, do lugar onde estou, quem não foi às lágrimas. É impossível não se emocionar com a homenagem a John (houve outra homenagem a ele, "A Day in the Life" emendada com "Give Peace a Chance").


Depois disso, para levantar o ritmo e descontrair, nada melhor do que colocar o Abe, baterista-figura há muitos anos com o Paul, para dançar “Dance Tonight”. As atenções são todas dele nessa hora.


Houve, também, algumas surpresas. Pelo menos não esperava ouvir “Ob-la-di Ob-la-da”, “Let'Em in” e "And I Love Her".


A cada final de música, quando o Paul dava 5 segundos de espaço, a plateia cantava o refrão da última música. Em duas delas, Paul deu “trela” e levava bem baixinho no contrabaixo, estimulando todo mundo.


A penúltima música ante do bis é sempre muito esperada, tanto por ela, em si, como pelos efeitos pirotécnicos. "Live and Let Die" levanta até defunto! Como estava perto do palco, deu pra sentir o forte calor das explosões. Fiquei imaginando como os músicos se sentem nessa hora!


Houve 2 bis. Na primeira saída, o pessoal cantava “We love you, yeah, yeah, yeah” e “I don´t know why you say goodbye I say hello”. Na segunda, “Get back to where you once belonged”.


Ao final da última música, de fato (Sgt Peppers/The End), Paul ficou alguns minutos sozinho no palco agradecendo ao público e fazendo graça. Fez tanto que, ao final, levou um tombaço quando tropeçou na caixa acústica de retorno. Mas não foi nada de mais. Levantou-se e fez mais graça.


Em suma, é impressionante ver como, aos 68 anos, Paul McCartney continua em plena forma. Canta, toca, dança e anima o público. Um verdadeiro show-man. Um profissional com “P” maiúsculo. E um repertório que dispensa apresentações. Apesar de toda falta de organização e pessoas que não se respeitam, nas filas e na pista, foi bom ter participado desse momento histórico e, para muitos, único.




Paul McCartney - O Segundo Show

Para a apresentação da segunda-feira, consegui trocar meu ingresso de arquibancada pela cadeira coberta. Ótima troca! Enquanto esperava na fila, a partir das 15h, começou a chover forte. Para piorar a situação, os portões abriram com 30 min de atraso. Quando se está tomando chuva, parece uma eternidade. Entretanto, ao contrário do primeiro dia, não havia (ou não percebi) tantos espertalhões querendo furar a fila. A chuva deve ter trazido uma gota de consciência.

Entrei no setor de cadeira coberta e pude escolher o lugar que eu quis. Como estava chovendo, decidi ficar na quarta fileira. A visão para o palco era muito boa. Por sorte, se tocaram e tiraram o DJ do dia anterior. Agora tocava Creedence, Amy Winehouse e Mutantes. Tudo a ver com o contexto do show.

Dessa vez, houve um pequeno atraso na apresentação. No dia anterior, 3 minutos. Na segunda-feira, 10 minutos. Para os padrões nacionais, isso nem atraso é.

Para minha surpresa, mudança de repertório logo de saída! Dessa vez começou mais animado com uma que todos conheciam: "Magical Mystery Tour". Fantástica!! Três músicas depois, mais uma mudança: "Got to Get Into My Life"! Uma das canções mais alto astral dos Beatles (feita para a maconha que fumavam, mas encaixa-se em vários contextos).

Quando já não sabia mais o que esperar, eis que, depois da ótima "Let Me Roll It" and "Long and Winding Road", mais uma novidade: "I'm Looking Through You" seguida de "Two of Us". E "Paperback Writer" foi tocada pelo seu compositor com a guitarra original, utilizada na gravação, em 1966!

Dessa vez, Paul chamou algumas meninas ao palco para autografar o braço delas, que provavelmente irá virar tatuagem. Senti um Paul mais espontâneo e à vontade que no dia anterior.

No final, agradeceu todo mundo novamente (pessoal de luzes e som, a banda e a plateia) e até fez uma brincadeira com a queda do dia anterior. Quando foi sair do palco, fingiu que ia tropeçar e deu um pulinho, saindo de cena.

Após essa apresentação memorável, saí de alma lavada. Realizei mais um sonho... duas vezes! E ele prometeu: "Até a próxima". Aguardemos!

Paul McCartney - Repertório do dia 22/Nov

Músicas que Paul tocou no segundo dia (22)

"Magical Mystery Tour"
"Jet"
"All My Loving"
"Got to Get You Into My Life"
"Highway"
"Let Me Roll It / Foxy Lady" (Jimi Hendrix cover)
"The Long and Winding Road"
"Nineteen Hundred and Eighty-Five"
"Let 'Em In"
"My Love"
"I'm Looking Through You"
"Two Of Us"
"Blackbird"
"Here Today"
"Bluebird"
"Dance Tonight"
"Mrs. Vandebilt"
"Eleanor Rigby"
"Something"
"Sing The Changes"
"Band On The Run"
"Ob-La-Di, Ob-La-Da"
"Back in the U.S.S.R."
"I've Got a Feeling"
"Paperback Writer"
"A Day In The Life / Give Peace A Chance"
"Let It Be"
"Live and Let Die"
"Hey Jude"

Bis
"Day Tripper"
"Lady Madonna"
"Get Back"

Bis
"Yesterday"
"Helter Skelter"
"Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band / The End"

Paul McCartney - Repertório do dia 21/Nov

Músicas que Paul tocou no primeiro dia (21)
"Venus and Mars/Rock Show"
"Jet"
"All My Loving"
"Letting Go"
"Drive My Car"
"Highway"
"Let Me Roll It/ Foxy Lady"
"The Long and Winding Road"
"Nineteen Hundred and Eighty-Five"
"Let 'Em In"
"My Love"
"I've Just Seen A Face"
"And I Love Her"
"Blackbird"
"Here Today"
"Dance Tonight"
"Mrs Vandebilt"
"Eleanor Rigby"
"Ram On"
"Something"
"Sing the Changes"
"Band on the Run"
"Ob-La-Di, Ob-La-Da"
"Back in the U.S.S.R."
"I've Got a Feeling"
"Paperback Writer"
"A Day in the Life/Give Peace a Chance"
"Let It Be"
"Live and Let Die"
"Hey Jude"

Bis
"Day Tripper"
"Lady Madonna"
"Get Back"

Bis
"Yesterday"
"Helter Skelter"
"Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band/The End"

Como acabar com um campeonato de futebol

Antes de tudo, a definição de futebol de campo: onze jogadores contra onze jogadores. Ganha quem fizer mais gols em um determinado espaço de tempo. O que elimina, por suposição, a famigerada "morte súbita" (a Fifa extinguiu-a, felizmente). Em uma competição dizem que o mais justo é que todos joguem contra todos, em turno e returno. Será mesmo? E como isso afeta o que realmente importa: a emoção dos jogos?


Em 2006 houve repetições de jogos porque juízes haviam sido comprados por casas de apostas para "fazer" os resultados. O Inter sentiu-se prejudicado, apesar de o Corinthians, com um grande time, ter feito um campeonato muito bom. E teve um gol regular, de Tevez, contra o Palmeiras, anulado pela bandeirinha Ana Paula Oliveira (que, por sinal, trabalha muito bem, no geral).


Em 2009, o Corinthians visivelmente fez "corpo mole" contra o Flamengo para prejudicar o São Paulo, que se vingou em 2010 e tomou uma goleada do Fluminense, que tomou a liderança do campeonato das mãos do Corinthians.


Pergunto de novo: isso é justo? Times que não têm mais perspectivas no campeonato decidindo os jogos cruciais por rivalidades regionais? A reta final dos campeonatos por pontos corridos é uma vergonha. Todos os campeonatos deveriam ter uma fase eliminatória. Selecionam-se os 4 ou 8 melhores times que jogaram entre si, evitando marmeladas, pois entre 20 times muitos estariam entre os 8, e o resto brigando contra o rebaixamento. Esses 8 times fariam jogos de ida e volta. Quem fizer menos pontos na soma dos jogos, cai fora. Cada jogo é uma final. E todos saem ganhando. A audiência da TV aumenta, os estádios ficam lotados, emoção em todos os jogos. O que será que desestimula a CBF e a Globo a mudarem as regras do campeonato?

03 setembro 2010

"O" Cara

10 agosto 2010

Lula ao natural

Vamos ver por quanto tempo o vídeo continuará no ar...

15 julho 2010

O óbvio que poucos enxergam